O setor industrial da panificação, assim como outros motores da economia, têm sido fortemente afetados pela crise sanitária covid-19. Quebras de vendas, reduções de horários de trabalho, colaboradores em confinamento, empresas em lay-off. O futuro é bastante desafiador.
Mais do que nunca, importa analisar os factos e tomar decisões que permitam uma melhor adaptação à realidade, minimizando os impactos presentes. A indústria da panificação e da pastelaria tem sabido responder a este desafio, abrindo novos caminhos e tornando as ameaças em novas oportunidades de negócio.
Em Portugal e no mundo, temos assistido com atenção a vários casos de sucesso, experiências positivas e a determinadas tendências de mercado que têm surgido e que gostávamos de partilhar convosco.
Forte aposta no pão
O pão, no setor, é uma aposta certa, inclusive para as pastelarias ou confeitarias que não o produziam no passado e veem nele uma solução para rentabilizar a sua estrutura.
O pão fresco é altamente apreciado pelo consumidor e não pode faltar à mesa. Esta foi uma das razões que motivou tanta gente a tentar fazer o seu próprio pão e criar uma moda que parece ser uma oportunidade. Despertar nos clientes o valor do pão, dar a conhecer outros pães (pães regionais ou nutricionalmente mais ricos que eram consumidos pelos nichos de mercado) e “educar” o cliente para outros sabores a preços atrativos parece ser um caminho.
Venda de ingredientes
Alguns industriais descobriram que poderiam, para alguns produtos, ser um canal de distribuição alternativo, reduzindo nas pessoas a sensação de risco e colmatando alguma escassez. Passaram a vender farinhas de vários tipos, misturas de cereais, fermento e massa-mãe e até ovos, leite e charcutaria, que estando disponíveis para uso interno passou a ser um complemento na venda. Alguns foram mais longe e encontram nas massas refrigeradas ou congeladas (folhada, quebrada, areada e para pizza) uma boa aposta para agregar valor.
Produtos pronto a cozer
A possibilidade de cozer uns deliciosos folhados para o lanche, fazer a sua pizza ou ter o pão quentinho no dia-a-dia, é uma opção empolgante para muitas famílias, que fez despertar os industriais para a venda de produto pronto a cozer pelo consumidor em casa.
Porta a porta
Por força dos limites à circulação de pessoas, a entrega ao domicílio regressou em força. É uma forma segura, pois evita saídas, filas e perda de tempo para os clientes e ao mesmo tempo evita desperdícios produtivos e horários em loja prolongados. A venda itinerante de pão pelas comunidades também regressou de forma bem-sucedida.
Cabazes de pão
A definição de cabazes com vários tipos de pão, de pastelaria e com outros produtos complementares, para consumo semanal, é uma alternativa de compra que tem sido proposta por várias empresas. Que para além de motivar uma compra mais emocional, permite às empresas melhor organização do fabrico usando somente os recursos necessários.
Artigos de padaria
Animar e ocupar as crianças em casa, não têm sido tarefas fáceis ara os pais. Por tal, para além dos ingredientes, assistimos à venda de artigos e utensílios infantis, como rolinhos de massa, cortantes, aventais, papel vegetal entre outros, e até disponibilização de receitas para garantir experiências felizes.
Formação e workshops
Nesta fase, em que as pessoas estão mais disponíveis em casa, a procura pela formação à distância tem sido transversal em todos os setores. Na padaria a tendência não é diferente, seja pela formação especializada sobre como produzir pastéis de nata, ou pão, seja pela formação grátis como forma de fidelização e educação de consumidores.
Confeitaria diferenciada e sazonal
Novos sabores e “produtos de época” como o bolo-rei e os folares característicos são motivos para alegrar o dia-a-dia das famílias. A seleção tem sido cuidada, para evitar desperdícios em produtos confecionados e matérias-primas.
Validade mais extensa
Produtos de larga duração como biscoitos e tostas adequam-se à dispensa de todos e serão também uma boa aposta.
Promoções e vouchers futuros
Sem dúvida alguma, que as promoções atraem consumidores. O incentivo à compra em quantidade ou à repetição de compra, de forma inteligente e criteriosa, pode gerar mais-valias para os negócios. Por exemplo “na compra de 6 unidades, oferta de 1, a usufruir num futuro próximo estimulando o cliente a uma nova visita. Outra nova forma de venda são os vouchers para uso no pós pandemia, que consiste em comprar agora, a um preço mais interessante, para poder usar em meses posteriores. Estas técnicas tentam ser garante de receitas no presente e no futuro, promovendo a fidelização.
Novos segmentos
A padaria já explorava o negócio das refeições rápidas e com a pandemia o segmento tornou-se numa alternativa para as refeições em casa. As pizzas e salgados são mais um acrescento no negócio.
Novas tecnologias
Os diferentes canais digitais permitem uma maior aproximação às pessoas, contribuindo para o aumento de receitas, através da promoção de produtos e contacto.
Para os públicos mais tecnológicos, as lojas online permitem encomendas e pagamento mais seguros. Já o telefone continua a ser um meio privilegiado para o público mais tradicional. O e-mail e as redes sociais permitem apresentar e dar a conhecer a oferta. O importante é comunicar com o mercado, ouvir e falar, utilizando os canais de forma adequada, de acordo com a base de clientes.
Horário das lojas
O ajuste dos horários de abertura e fecho das lojas, a reorganização dos horários de trabalho dos funcionários, assim como a sua divisão por equipas, são ações vitais para assegurar a saúde das pessoas e das empresas, que felizmente, muitos têm colocado em prática.
Parece que não faltam ideias para combater esta pandemia… E, certamente, muitas outras irão surgir, fruto da dinâmica, do empreendedorismo e da garra que são tão características do nosso setor de padaria e pastelaria. A todos que fazem parte desta indústria tão especial, muita coragem e muito obrigado pelo vosso trabalho.